domingo, 13 de junho de 2010

UM DIA FRIO...

Chega o inverno, mudam-se os hábitos, os comportamentos se retraem e ficamos mais introvertidos. Voltamos mais pra dentro de si nós mesmos e adquirimos um jeito mais sério de ser.

Vestimos roupas mais fechadas e mais quentes. Buscamos mais alimentos quentes, para aquecer o estômago e conseqüentemente nosso corpo. Queremos ter a certeza que nossos pés e mãos não sintam frio, já que são os termômetros do corpo; calçamos meias, sapatos fechados e luvas, protegemos o pescoço, os ombros. Dependendo do lugar, gorros, botas, sobretudos e muita lã.

Ficamos mais fechados nas nossas casas e quando vamos aos lugares, escolhemos os ambientes que tenham bom aquecimento e proteção adequada. Os cobertores saem dos armários e as bebidas quentes são as preferidas. Chocolates quentes, caldos, sopas, chás, vinhos, queijos, pratos saborosos, foundes...

Para alguns, o inverno representa tristeza, momento de baixa-estima, de perdas; já que temos pouco sol e pouco calor e daí pouco hormônio do bom humor. As plantas entram em dormência, as flores se fecham e poucas aparecem, o céu fica mais cinzento, as noites mais longas e os dias mais curtos.

Para outros, o inverno representa momento de tranqüilidade, reclusão, interiorização, aconchego e possibilidade de aproximação e melhoria de relacionamentos. Pode ser para muitos, momento de juntar a família mais perto pra se proteger, conversar em volta da mesa... para outros, é o momento de degustar um bom vinho, comer uma boa massa e botar o assunto em dia. Diga-se de passagem, é algo muito bacana. Bons momentos vividos neste período são magníficos. Pra ficar na lembrança pra sempre. Recomendo.


Momento de reclusão para outros, de entrar em contato consigo mesmo e olhar de outra forma a vida. De ver outros prismas, enxergar o caleidoscópio de emoções que existe.

Penso que sozinho ou acompanhado, neste momento é sempre bom esse encontro. Prefiro junto, gosto do toque, do carinho, do aconchego, do compartilhar. Fica mais gostoso não? Por esse ponto de vista, qualquer comida ou bebida degustada dessa forma é mais saborosa.


Momento de experienciar momento de dormência, de preparação pra novo renascimento, nova aurora, reformulação dos amores gris, a vivência das fragilidades, das cores frias, cinzas e azuis, dos desejos incontestes, do ainda desencorajamento do sentir. Mas a expectativa do reviver, do reformular, do estar à flor da pele. Momento das músicas intimistas. Momento de estar quietinho, adormecido, renovando as forças, refazendo as energias, criando, refazendo, reformulando, renovando.Momento de cumprir o ciclo do adormecer para o depertar.


“Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro...” é verdade. Um dia frio é um bom momento pra ler, estudar, ver um filme, escrever. É um convite a muitas ações a serem realizadas sozinho, a dois ou em grupo. Ao redor de uma fogueira, de uma lareira, de um aquecedor, regado a um bom vinho, ou a um chocolate quente, ou a um chá, ou a um caldo quente e uma boa comidinha fumegante. Embaixo dos lençóis, dos agasalhos, dos braços de alguém é algo que vale muito a pena experienciar. Um bom inverno pra todos!


Manhã de Inverno
Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.

Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.

A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.

Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.

Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.

Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.

Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co’os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.

Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.

Machado de Assis, in 'Falenas'


Um comentário:

  1. Arrasou, mais uma vez!!!
    Adorei, Silvia!!
    beijos e, no +, MÚSICAEMSUAVIDA!!
    www.macleim.com.br

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