quinta-feira, 24 de junho de 2010

NEM TANTA FOGUEIRA... NEM MAIS UM BALÃO...



Era pra estamos comemorando o São João, soltando fogos e comendo milho assado. Era pra gente estar dançando quadrilha e fazendo adivinhações. Mas estamos chorando. Estamos tristes, sofrendo com perdas humanas, materiais e tentando entender o que aconteceu.

Estamos lutando pra sobreviver à tragédia de nossas vidas. De repente não temos mais nada. Tudo se foi, tudo se acabou. “E AGORA JOSÉ?...” Só resta a dor. O vazio. Numa fúria enlouquecedora, vem a água e derruba tudo. Leva bens e vidas. E ficamos no nada.

Como fazer agora? Como se erguer? Como contabilizar as perdas. Como trazer de volta os que foram? Como juntar os trapos e recomeçar? Com quem contar? Olhar em volta e não ver mais nada. Não achar mais nada e simplesmente sentar e chorar.

Hora de ajudar, hora de fazer algo por essas pessoas que são nossos parentes, amigos, irmãos... Hora de ajudar, sair da zona de conforto e colaborar. Ajudar a reconstruir as vidas dessas pessoas. Ajudar a recompor a existência. Dar novo sentido à vida, escrever uma nova história.

Hora de engrossar as correntes de apoio e solidariedade. Hora de deixar de sermos mesquinhos, egoístas e ser humanos. Não é uma questão de religião, Vai mais, além disso, é uma questão de humanidade. Devemos mais que nunca olhar pra si e perguntar: E SE FOSSE COMGO?

É hora de engolir a empáfia, de sair do salto, de exercitar humildade. Hora de chegar junto. De dizer: CONTA COMIGO! Hora de arregaçar as mangas e botar a mão na massa e pensar que o que você faz pro outro, volta pra você também estará se ajudando.

Vamos lá, nossa copa é trabalhar pra amenizar a dor e o sofrimento alheio. Sobretudo dessas pessoas que estão hoje, sem lenço sem documento. Hora de desenvolver resiliência e restabelecer a ordem das coisas. Hora de cutucar nossos governantes, de chamar nossos políticos e dizer que precisamos dos jetons deles pra construir novas casas, novas vidas. Hora de olhar pra frente, juntar os caquinhos e dar colorido ao novo mosaico.

VAMOS TODOS AJUDAR. SOLIDARIEDADE JÁ!!

domingo, 13 de junho de 2010

UM DIA FRIO...

Chega o inverno, mudam-se os hábitos, os comportamentos se retraem e ficamos mais introvertidos. Voltamos mais pra dentro de si nós mesmos e adquirimos um jeito mais sério de ser.

Vestimos roupas mais fechadas e mais quentes. Buscamos mais alimentos quentes, para aquecer o estômago e conseqüentemente nosso corpo. Queremos ter a certeza que nossos pés e mãos não sintam frio, já que são os termômetros do corpo; calçamos meias, sapatos fechados e luvas, protegemos o pescoço, os ombros. Dependendo do lugar, gorros, botas, sobretudos e muita lã.

Ficamos mais fechados nas nossas casas e quando vamos aos lugares, escolhemos os ambientes que tenham bom aquecimento e proteção adequada. Os cobertores saem dos armários e as bebidas quentes são as preferidas. Chocolates quentes, caldos, sopas, chás, vinhos, queijos, pratos saborosos, foundes...

Para alguns, o inverno representa tristeza, momento de baixa-estima, de perdas; já que temos pouco sol e pouco calor e daí pouco hormônio do bom humor. As plantas entram em dormência, as flores se fecham e poucas aparecem, o céu fica mais cinzento, as noites mais longas e os dias mais curtos.

Para outros, o inverno representa momento de tranqüilidade, reclusão, interiorização, aconchego e possibilidade de aproximação e melhoria de relacionamentos. Pode ser para muitos, momento de juntar a família mais perto pra se proteger, conversar em volta da mesa... para outros, é o momento de degustar um bom vinho, comer uma boa massa e botar o assunto em dia. Diga-se de passagem, é algo muito bacana. Bons momentos vividos neste período são magníficos. Pra ficar na lembrança pra sempre. Recomendo.


Momento de reclusão para outros, de entrar em contato consigo mesmo e olhar de outra forma a vida. De ver outros prismas, enxergar o caleidoscópio de emoções que existe.

Penso que sozinho ou acompanhado, neste momento é sempre bom esse encontro. Prefiro junto, gosto do toque, do carinho, do aconchego, do compartilhar. Fica mais gostoso não? Por esse ponto de vista, qualquer comida ou bebida degustada dessa forma é mais saborosa.


Momento de experienciar momento de dormência, de preparação pra novo renascimento, nova aurora, reformulação dos amores gris, a vivência das fragilidades, das cores frias, cinzas e azuis, dos desejos incontestes, do ainda desencorajamento do sentir. Mas a expectativa do reviver, do reformular, do estar à flor da pele. Momento das músicas intimistas. Momento de estar quietinho, adormecido, renovando as forças, refazendo as energias, criando, refazendo, reformulando, renovando.Momento de cumprir o ciclo do adormecer para o depertar.


“Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro...” é verdade. Um dia frio é um bom momento pra ler, estudar, ver um filme, escrever. É um convite a muitas ações a serem realizadas sozinho, a dois ou em grupo. Ao redor de uma fogueira, de uma lareira, de um aquecedor, regado a um bom vinho, ou a um chocolate quente, ou a um chá, ou a um caldo quente e uma boa comidinha fumegante. Embaixo dos lençóis, dos agasalhos, dos braços de alguém é algo que vale muito a pena experienciar. Um bom inverno pra todos!


Manhã de Inverno
Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.

Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.

A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.

Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.

Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.

Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.

Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co’os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.

Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.

Machado de Assis, in 'Falenas'


quinta-feira, 10 de junho de 2010

TEMPOS MODERNOS


Nosso eterno cômico vagabundo, Charles Chaplin eternizou no cinema memoráveis temas que de forma lúdica e criatividade extrema, com arte e muito bom senso, definiram atitudes e comportamentos que nortearam o os indivíduos naquele contexto histórico.

É possível ver que ainda hoje, a crítica feita de forma magistral por Chaplin, é totalmente atual e contextualizando pro agora, vejo que nos comportamos tal qual descreveu mostrando no filme a forma mecânica individualista que nos tornamos. Creio que hoje mais que antes. Podemos nos perguntar, como assim? A critica dele ocorre nos tempos da revolução industrial, quando da mecanização do trabalho, da migração das pessoas do campo para a cidade e o advento das guerras mundiais.

Mas penso que hoje extrapolou em muito os limites propostos por ele. Diversificamos o trabalho, mas enlouquecemos na correria para atender às necessidades sempre urgentes de sobrevivência para mantermos um padrão de vida razoável de existência.

Corremos de um lado para o outro, tentando atender a múltiplas necessidades. Trabalhamos em vários lugares para dar conta de muitas demandas. hoje as máquinas são os computadores. Estamos funcionando na velocidade das fibras ópticas, das ondas eletromagnéticas. É @.com, nos falamos por e-mails e vamos ao oco do mundo em poucos segundos. Tão lonje e tão perto...

O preço que pagamos é tão caro quanto antes. Continuamos a apertar botões, como mostra Chaplin no filme; só que agora de computadores, de celulares, de Ipods... e travamos relações virtuais, baseadas em perfis inventados, construídos para esconder e prontamente agradar sem sequer experienciar a relação.

Atingimos muitas metas, chegamos aos mais diversos lugares sem sequer sair da nossa cadeira; mas por outro lado aumentamos nossa solidão; criamos mais pânico, estamos mais ansiosos; desenvolvemos mais depressão; temos mais medo e consequentemente geramos mais agressividade.

Tempos modernos?! Sabemos mais sobre tudo e menos sobre nós mesmos. Nos fechamos mais na caverna e compartilhamos menos.

Quero Tempos Modernos do chegar junto; do facilitar o encontro; do olhar no olho; do tocar o coração; do trocar sorrisos, beijos e abraços; do dizer ao vivo e a cores: "que bom estar com você!" ou "Eu te amo!"...

Quero os Tempos Modernos, do poder chegar mais rápido ao encontro do outro; da possibilidade de encontros reais; de ser mais , que ter mais...

Quero os Tempos Modernos, do aproveitar melhor o tempo; do poder ser mais livre pra escolher; do poder ter mais oportunidades pra escolher seguramente; de poder experienciar mais e de não ter medo de SER FELIZ!






quarta-feira, 9 de junho de 2010

MÚSICA DE ALCOVA



Voltemos a falar de música, e, trago um tema que tem sido recorrente nos textos deste blog; a música. E também a música de alcova. Há alguns dias falava pra um amigo que considero Jazz e Blues, música de alcova.

Vou explicar. E vamos começar pelo termo chave: Alcova que segundo o Aurélio é um pequeno quarto de dormir situado no interior da casa, sem aberturas para o exterior; recâmara quarto de dormir, e também quarto de mulher e dormitório de casal. De qualquer forma é um lugar protegido, onde se pode estar como quiser, fazendo o que quiser.

Por ser este ambiente protegido, é onde podemos fazer nossas viagens, ir ao encontro do si mesmo, mergulhar no self. É la que nos possibilitamos sermos nós mesmos e criar. O lugar aonde vamos mais profundo e onde entramos em contato com nossos medos, nossas angústias, nossos desejos, nossas questões. Esse quarto fechado, sem janelas externas, tem entrada e saída únicas. É lá que nos damos conta de quem somos ou nos perdemos em nós mesmos.

E vamos a esse ambiente diversas e diversas vezes. Vezes dessas acompanhados de alguém ou alguma coisa; desprovidos de sentidos ou enternecido de todos eles; mergulhamos no silêncio ou temperamos esse silêncio com sons que nos ajudam a entrar nesse universo desconhecido sem medo de ser feliz.

A alcova é o lugar da busca pelo prazer, pelo bem estar, pelas possibilidades... O Jazz e o Blues têm uma característica inebriante. Que nos remete ao cerne das coisas, pelo movimento ondulante do som que produz. Sim, som em ondas. As ondas são inebriantes, embebedam a gente e nos move em espiral crescente e altamente fértil.

O Jazz, permite improvisação à qual estamos buscando na alcova, improvisar na nossa busca interior. Os sons que parecem desorganizados e díspares, se tornam arrumados e numa ordem sequencial interessantíssima, é um som que promove alegria e despertar.

o Blues, possuidor de ritmo vigoroso, altamente sensual, responsável por contar histórias de maneira simples e totalmente intensas; traz no seu bojo o poder de ir fundo n'alma e expressá-la na integra. A música das angústias e das tristezas que é o que vivemos na alcova.

Ao sermos embalados por quaisquer desses ritmos, esse quarto escuro toma dimensões inegavelmente avassaladoras e nos proporciona momentos maravilhosos e ímpares. Assim defino alcova e a renomeio de vazio fértil, de quarto escuro. Então... Música em nossas vidas!!