Diferente sim e porque não? Questionamos-nos
todo o tempo na busca de iguais. Na tentativa de encontrar sujeitos que pensem
semelhantes a nós; que sejam do jeito que queremos. Buscamos o igual, mas na
realidade somos diferentes.
Queremos tanto o igual, que não
nos permitimos ver que somos DIFERENTES. E o que realmente nos atrai é o
diferente que o outro tem. É o que eu não tenho que está no outro e me
completa. Mas ao mesmo tempo em que temos essa realidade, nos apavoramos com a
confirmação dessa diferença.
Somos negros/ brancos, fortes/
fracos, alegres/ tristes, pequenos/grandes, feios/bonitos, somos misturas de
raças, híbridos de culturas mil. Sim, híbridos. Nossas línguas denunciam o
quanto somos diferentes e não há fato maior que indique isso que não nós
mesmos. E é o que nos identifica. Cada diferença é o que nos diz quem somos. É
o que nos aponta ao outro para nos mostrar aquilo que nos é único, singular.
Seres únicos amplamente estudados
por diversos cientistas, estudiosos, tentando classificar, nominar, construir
um conhecimento que nos identifique uns perante aos outros sem dor, sem
sofrimento, sem custas. Por que o que nos faz singular, diferente, também nos
segrega, castiga, distancia. Mas pode nos unir, defender, agregar.
“Identidade é uma palavra difícil
de definir, traz em seu sentido a marca do caráter complexo das coisas que
discute uma vez que pode significar tanto a qualidade do idêntico e do comum,
como o conjunto de caráter próprios e exclusivos.. “ (Camila Rodrigues) fazemos
uma construção simbólica, que supõe vivamente a junção de sentimentos que
constrói-se invariavelmente em relação ao “outro”. Esse outro os serve de
espelho refletindo nossa própria imagem que ousamos muitas vezes negar, desconhecer.
Porque temos tanto medo de ser
diferentes? Será que tememos não nos reconhecer? Não nos perceber? Não nos
encontrar? A verdade é que o somos. É fato. Admitir e aceitar a diferença é nos
conscientizar de nossa identidade. É confirmar quem somos, o que queremos e não
nos perdermos ou misturarmos no outro que sinaliza essa realidade. Identidade é
uma conceituação de unicidade, é uma construção de saberes sociais,
idiomáticos, simbólicos de um povo, de um grupo, de um indivíduo que se
reconhece que se põe a ser visto, ser identificado.
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Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
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Nem Sempre Sou Igual no que Digo e Escrevo
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIX"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIX"
Heterónimo de Fernando Pessoa